CHANTAGEM EXPLÍCITA – CPI de Lira contra Petrobras ultrapassa atual mandato presidencial

O presidente da Câmara dos Deputados gastou 652 palavras para fazer com a Petrobras o que cabe numa só: chantagem. É nisso que se traduz seu artigo na edição da “Folha de S.Paulo” que já circulava nas redes sociais desde o domingo. “Quanto gastam seus diretores em suas viagens? Quanto custam suas hospedagens? No exterior ficam onde? Em que carro andam? Quem paga seus almoços e jantares? Alugam carros? Aviões? Helicópteros? Há excessos? De onde vieram? Como constituíram seus patrimônios? Seus parentes: investem onde e são ligados a quem? Depois, temos de entender os critérios de formulação de políticas da empresa.

Temos de entender com quem os diretores e os conselheiros conversam. E esses interlocutores: são ligados a que interesses?”, escreveu o deputado Arthur Lira (PP-AL).Se o ocupante do segundo cargo na linha sucessória da Presidência da República se presta a esse papel não é apenas porque o reajuste de combustíveis feito pela Petrobras na semana passada neutraliza seu intrépido embate pela redução do ICMS. Até os funcionários fantasmas da Assembleia Legislativa de Alagoas sabiam que isso estava marcado para acontecer.

A chantagem guarda relação com outro projeto do deputado, este de mais longo prazo, que é o de destruir a governança que foi engendrada na empresa desde que seu partido liderou o butim. O PP já se deu conta de que o orçamento é secreto mas tem fundo. E o único jeito de avançar sobre os investimentos da União é retomando a joia da coroa. Vem daí a obsessão pela CPI da Petrobras. E não importa que seus trabalhos ultrapassem a eleição presidencial, desde que estejam concluídos até a posse do novo governo. Seja quais forem os planos do próximo presidente da República para a estatal, lá estarão fincadas, novamente, as estacas do Centrão.

Por isso, surpreende o apoio da oposição, que lidera a disputa sucessória, à CPI. É bem verdade que a comissão pode ser fonte de desgaste para o presidente da República. Todas o são. Mas não faltam flancos de desgaste neste governo. Aliar-se a Lira nesse momento é lhe deixar em condições de dar as cartas na estatal num eventual governo petista. A não ser que o PT pretenda reeditar a aliança com o PP que tanto prejudicou a empresa. Depois do tom do achaque, o mais surpreendente do artigo de Lira é sua admiração por Theodore Roosevelt (1858-1919). O presidente da Câmara junta-se, em sua admiração, a um adversário de longa data, o ex-juiz Sergio Moro que, em sua autobiografia, cita o ex-presidente americano para concordar com a frase de que “não existe crime mais sério do que a corrupção”. (Análise por Por Maria Cristina Fernandes, Valor — São Paulo)

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