BATALHA SEM FIM – Família Boiadeiro foi quem marcou a terra do Sertão com rastro de sangue

Pé de Ferro e os irmãos Baixinho Boiadeiro e Pretinho Boiadeiro
Pé de Ferro e os irmãos Baixinho Boiadeiro e Pretinho Boiadeiro

A ambição da família Boiadeiro pelo poder (econômico e político) fez com que homens e mulheres da família dessem início a uma disputa tão sangrenta quanto estúpida, tendo sempre algum membro da família Dantas ou próxima deles como alvo.

O estopim foi aceso pelos Boiadeiro quando, em 1999, eles emboscaram – na rodovia AL-220, em Jaramataia, o fazendeiro José Miguel Rodrigues Dantas e sua esposa, Matilde Toscano. Entre os integrantes da família Dantas, Zé Miguel foi o único assassinado pelo clã Boiadeiro. Zé Miguel era a maior expressão política da região – nas décadas de 1980 e 1990 – e reconhecido como uma pessoa que não temia os Boiadeiro. Durante cerca de 25 anos, ele, Aluízio Rodrigues e a ex-esposa de Zé Miguel detiveram o poder político em Batalha.

Só mesmo uma emboscada na envergadura da que ocorreu em 1999 tiraria Zé Miguel do páreo político. O fazendeiro José Laércio Rodrigues de Melo, o Laércio Boiadeiro, foi indiciado na condição de autor deste crime. A família Dantas esperou o resultado das investigações e a atuação da Justiça. Laércio Boiadeiro foi condenado a mais de 30 anos de prisão. Não houve uma reação armada como se esperava no Sertão de Alagoas.

Laércio Boiadeiro
Laércio Boiadeiro

Mesmo com esse duplo homicídio – num momento em que Zé Miguel comemorava seu aniversário com a esposa – com a forma cruel como aconteceu, com o carro deles sendo tirado da pista a tiros e o casal sendo executado com o carro virado. Os matadores estavam em três caminhonetes e usaram armas de grosso calibre como rifles e espingardas 12.

Mesmo depois dessas duas mortes, a família Boiadeiro continuou morando em Batalha e em cidades vizinhas. Nada mudou para eles, a não ser a certeza de que, àquela altura, tinham dado um recado forte de que queriam o poder em Batalha a todo custo. Os Dantas também não se mudaram nem por medo, nem por covardia.

A chamada guerra entre as famílias foi uma notícia plantada pelos Boiadeiro que queria legitimar a luta deles pelo poder político em Batalha. O alvo desse clã sempre foi a Prefeitura de Batalha, quando poderiam administrar a cidade como queriam e, com dinheiro e com poder, alcançariam o controle de boa parte do Sertão. Mas, no caminho deles estavam os Dantas, com poderio político e aceitação entre a população. Tanto é assim que, o máximo que os Boiadeiro conseguiram na cidade – além de matar gente, invadir terras, traficar drogas e roubar gado – foi uma vaga na Câmara de Vereadores.

Mais de 30 integrantes dessa família, entre várias várias gerações, tem envolvimento em ocorrências policiais que vão desde atirar em via pública e assassinato, tamanha a violência do clã. Nesse período, Luiz Dantas que herdou o nome forte da família na política alagoana, foi deputado federal, deputado estadual e Presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas em algumas legislaturas. O filho dele, Paulo Dantas, foi prefeito da cidade duas vezes pelo voto popular. Quando deixou a Prefeitura, Paulo conseguiu eleger a esposa, Marina Dantas, que está hoje no seu segundo mandato. Ou seja, aos Boiadeiro, restava a disputa por uma vaga na Câmara de Vereadores. Hoje, Paulo Dantas é deputado estadual no primeiro mandato, eleito com mais de 38 mil votos. Paulo Dantas é o 1º secretário da Mesa Diretora da Assembleia.

Em pouco mais de 20 anos, os Boiadeiro foram fazendo inimigos no Sertão de Alagoas em quase todas as cidades, inclusive, se estendendo para o interior de Pernambuco. Ao ponto de, entre eles mesmos, tombar um numa emboscada e eles não terem a quem atribuir o crime. No caso de não encontrarem um suspeito aparente, eles colocavam na conta dos Dantas e a guerra foi crescendo na cabeça deles e no imaginário da população.

Na verdade, as pessoas tinham a certeza que, para enfrentar um clã tão sanguinário quanto os Boiadeiro, só uma família com influência na política, maior poder aquisitivo e que não tivesse medo deles. Os Dantas eram assim. Sempre precavidos: com um olho no peixe e outro no gato.
Mesmo com essa precaução, os Dantas tiveram duas baixas consideráveis em 2006. Numa emboscada ocorrida na praça central da cidade, morreram Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e o sargento Edvaldo Joaquim de Matos. O rapaz era cunhado de Paulo Dantas (irmão de Marina) e dirigia a caminhonete dele no momento. O sargento trabalhava na segurança pessoal do então prefeito Paulo Dantas.

Esse atentado foi cometido por José Emanoel Boiadeiro. Ele foi preso e condenado, mas conseguiu livramento condicional. Em 2016, a Polícia Civil recebeu a informação de que Emanoel Boiadeiro estava com um arsenal em casa, na cidade de Belo Monte. De posse de um mandado de prisão, foi cumpri-lo, mas teria havido reação à bala e Emanoel Boiadeiro foi ferido e morto. Um policial ficou ferido com um tiro na mão.

Perícia investiga morte de Emanoel Boiadeiro
Perícia investiga morte de Emanoel Boiadeiro

Em novembro de 2017 outro membro do clã Boiadeiro que tombou foi Adelmo Rodrigues de Melo, o Neguinho Boiadeiro. Ele era reconhecido como o ponto de equilíbrio da família. Quem mantinha os filhos Preto e Baixinho Boiadeiro sob controle. Neguinho Boiadeiro foi emboscado quando saía da Câmara, após a sessão. Preto e Baixinho Boiadeiro são reconhecidos com os mais violento da família.

Neguinho Boiadeiro
Neguinho Boiadeiro

Após a morte de Neguinho Boiadeiro, outro vereador – Tony Carlos Silva Medeiros – o Tony Pretinho foi morto na porta de casa, em dezembro de 2017. Esse crime é atribuído aos irmãos Preto e Baixinho Boiadeiro e seria porque, na interpretação deles, foi Tony Pretinho quem passou as informações sobre Neguinho Boiadeiro aos matadores. No dia da morte de Neguinho, Tony não foi à sessão na Câmara. Ocorre que Tony era mais ligado aos Boiadeiro do que aos Dantas. Nem assim escapou da fúria dos irmãos.

Tony Pretinho
Tony Pretinho

Quem também escapou de ser morto a tiros dentro de casa pelos dois irmãos Boiadeiro foi Emílio Dantas, primo de Paulo Dantas. Os Boiadeiro passaram na porta da casa dele e abriram fogo contra ele. Mas Emílio Dantas estava armado e reagiu. Emílio fico ferido, mas ninguém morreu nesse atentado. Hoje, os irmãos Preto e Baixinho Boiadeiro, considerado os mais perigosos da família, estão foragidos da Justiça e da Polícia Civil. Além deles, outro membro do clã identificado como Denis Boiadeiro também seria perigoso e estaria em liberdade.

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