Ainda continua a batalha judicial dos jornalistas demitidos da Gazeta de Alagoas, em busca dos direitos trabalhistas. Durante audiência no Ministério Público do Trabalho (MPT), ainda ontem, a direção do jornal alegou não ter dinheiro para pagar as rescisões e FGTS atrasados.
Além dos jornalistas demitidos, nunca terem recebido o FGTS, os que permanecem na redação já foram avisados que todas as gratificações foram cortadas, ou seja, editores e repórteres receberão o mesmo salário, sem acréscimo.
Se Fernando Collor foi denunciado pelos ex-funcionários em função das irregularidades trabalhistas, e já anunciou a seus interlocutores ter dificuldades para cumprir com acordos salariais, já tem empresário mirando na Gazeta desde a última reunião.
Durante a audiência de ontem entre advogados da organização e representantes do Sindicato dos Jornalistas (Sindjornal), foi ventilada a informação de que o empresário João Tenório estaria interessado em adquirir o toda estrutura da Gazeta e, inclusive, assumir as dívidas da empresa.
Para quem não sabe, o alagoano João Tenório (PSDB) já foi senador da república e se tornou um empresário conhecido por ser o proprietário da TV Pajuçara, afiliada da rede Record em Alagoas.
O cunhado de Teotônio Vilela Filho, parece de fato querer ampliar os investimentos da comunicação nos próximos meses.
Quando recebeu o Diploma José Ermírio de Moraes (prêmio destinado a empreendedores) há alguns anos, Tenório afirmou durante discurso que “investir no Brasil ainda continuava a ser um mergulho no escuro”, e destacou a importância do reconhecimento ao empresariado do Nordeste, Região que possuiu acentuado nível de pobreza.
“Investir em nosso país, infelizmente, continua a ser um mergulho no escuro pelas normas e marcos vigentes. Mas nós empresários insistimos, resistimos e persistimos”, afirmou o empresário.
Por outro lado, em 2016, o nome de Tenório apareceu na lista dos empresários de mídia que figuraram no escândalo conhecido em todo o mundo como Panama Papers.
Outros 13 empresários de mídia e jornalistas brasileiros são citados nos papéis. O nome de João Tenório apareceu nos arquivos como acionista e beneficiário final de duas offshores abertas nas Ilhas Virgens Britânicas.
A firma panamenha de advocacia e consultoria Mossack Fonseca – que teria indicado os diretores para os grupos de Tenório fora do Brasil -, forneceu empresas offshore para diversos “doleiros” brasileiros investigados no escândalo Lava Jato.
Na época, o ex-senador garantiu que todas as contas apontadas e citadas no Panama Papers são regulares e que sua assessoria jurídica acompanha o caso.
Um possível nova gestão
Se os ex-funcionários da Gazeta estão desde 2006 sem receber alguns benefícios. Uma nova gestão administrativa poderia resolver o problema.
Ainda não se sabe se é uma possibilidade real, mas até então, a empresa abandonada por Collor, que esbanjou dinheiro com suas viagens e carros de luxo pode ser um prato feito para alguns empresários do ramo, transformarem a empresa.
Até aqui, a direção do Sindicato de Jornalistas de Alagoas (Sindjornal) presta apoio aos funcionários lesados. Na faixa pendurada pelo sindicato na passarela do Cepa, uma “manchete” pintada em vermelho anunciou o colapso na empresa.
Ao que tudo indica uma nova audiência foi marcada para até 10 dias se houver acordo entre as partes. O Sindicato dos Jornalistas também deve decidir sobre judicialização de ações individuais ou coletivas nos próximos dias, ou se for verdade, acompanhar o recebimento da empresa por outra gestão. Apesar disso, o próprio sindicato descartou a possibilidade.