Propostas de Collor à Presidência são pífias, diz especialista

O interesse do senador Fernando Collor de Mello (PTC/AL) em participar das eleições em 2018 já vinha sendo cogitado desde o declínio do governo petista no ano passado. Quando anunciou a pré-candidatura em janeiro deste ano, Collor se mostrou confiante por já ter ocupado o cargo na década de 90.  A ideia inicial do político é se adaptar ao páreo de forma que fique no meio dos extremos, ou seja, entre Bolsonaro (PSL) e o candidato indicado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que irá ficar no lugar do ex-presidente Lula, preso pela Polícia Federal.
Apesar de se garantir por ter ocupado o cargo anteriormente e conquistado grande público na primeira eleição, o político divide opiniões entre especialistas na área. Há quem diga que a candidatura de Collor foi usada apenas para garantir a sobrevivência de seu partido, ameaçado por conta da nova regra de acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV. Outro fator que pode ter levado Collor a candidatura é para ajudar seu filho, Fernando James. O empresário vai encarar a vaga de deputado estadual, a convite do diretório estadual do PTC. Dessa forma, James vai para as eleições contando não só com o apoio de uma legião de amigos, mas também do pai.
Em janeiro deste ano, uma pesquisa do Datafolha mostrou que cerca de 44% dos eleitores disseram não votar em Collor sob nenhuma hipótese. Nesta época o senador tinha apenas 3% das intenções de votos. Na rejeição, só perdia para a de Michel Temer (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Já em fevereiro, a pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos, que entrevistou mais de mil pessoas, revelou que Temer encabeçava a lista com desaprovação de 93% dos entrevistados e Collor com 81%, tendo apenas 5% dos entrevistados aprovando sua atuação.
No último dia 15 de abril, a intenção de votos no senador chegou ao menor percentual registrado na carreira do político, com 1% (cenário sem Temer e MDB com Henrique Meirelles). Na imprensa, alguns jornalistas repercutem a candidatura de Collor, avaliando o legado deixado por ele antes do processo de impeachment em 1990. Nos planos econômicos do ex-presidente, os especialistas apontam que o poder do Estado foi usado para bloquear a poupança dos brasileiros para combater a inflação, além dos misteriosos casos de corrupção.
O principal desafio de Collor agora é confrontar a história e convencer os eleitores com uma boa jogada de marketing, provando com ações que os erros e equívocos cometidos no passado não irão se repetir. Em seus 40 anos na política, Collor já se considerou homem de confiança do ex-presidente Lula, já se aliou ao atual deputado federal Ronaldo Lessa (PDT) e, em 2014, se reelegeu ao Senado Federal ao lado do PT e do senador Renan Calheiros (MDB).
De acordo com as análises do economista Roberto Campos, Fernando Collor quer ser referência no liberalismo. Para ele, os aspectos negativos para candidatura do alagoano são: o envolvimento na Lava Jato, o passado de tragédias econômicas e principalmente o escândalo do “esquema PC Farias”. No entanto, para o economista é preciso cobrar mais de Collor quanto às suas estratégias para assumir a presidência, já que ele tem apostado em discussões obsoletas e não nas pautas urgentes do país.
Sobre os índices de rejeição, o especialista afirma que não tem haver apenas com o passado político de Collor, mas também com atitudes recentes do senador através das relações com figuras que são símbolo de corrupção no país. Em Alagoas, a tendência é o PTC repetir a aliança de 2014 e apoiar a reeleição de Renan Filho a governador e o pai dele, Renan Calheiros a senador.
Eleitor tem memória curta 
Em um dos seus primeiros discursos como pré-candidato, Collor deixou claro que é a favor de uma reforma política no país, a começar pela revisão constitucional. Para ele, os princípios da Carta Magna, considerada como o principal obstáculo para a modernização, se transformaram em interpretações forçadas, por conta de supostas alterações.
Collor acredita que, por consequência, a revisão acarretará outras reformas como um novo pacto federativo e uma nova organização do Estado e de seus poderes, reforma tributária em modelo simplificado, reforma fiscal mais equilibrada e reforma previdenciária.
Como pré-candidato, Collor quer realizar uma promoção econômica através de um plano de longo prazo com a inovação tecnológica, desburocratização, e redução do aparato estatal. Ele explicou que após o ano de 1988, o Brasil excedeu na quantidade de direitos e garantias, o que refletiu numa instabilidade jurídica.
Em 2015, o senador apresentou um estudo composto, onde em um livro, são apresentadas 33 novas propostas para o sistema político. Nas propostas, o político cita o enxugamento do universo político e da estrutura administrativa do Estado, como uma forma única de simplificar as organizações públicas.
A oportunidade de Collor, que também é ex-governador de Alagoas, segundo o historiador John Silva, vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), está na memória curta do povo brasileiro, que esquece a renúncia do político ao cargo de presidente, para escapar do impeachment por corrupção.
Para ele, a candidatura não é arriscada porque Collor percebeu que há semelhança do atual momento político àquele da primeira eleição democrática pós-ditadura, um espaço propício para defesa das privatizações e abertura de mercados. “Acredito que Collor terá lamentavelmente alguma capilaridade na disputa, ele deve alcançar alguns milhões de votos. Afinal, estamos falando da República Federativa do Brasil, onde um ex-presidente acusado, julgado e que sofreu impeachment é atualmente senador, logo, nada é impossível”, relatou.
Para quem conhece Collor, sabe que ele ganha na oratória sem a menor dificuldade, mas para voltar ao Palácio do Planalto, dependerá de muitas alianças e uma margem política específica. Só que agora votar não é uma grande novidade para a maioria do eleitorado, como era em 1989. O que a sociedade procura talvez não seja o verdadeiro “Caçador de Marajás”, mas sim alguém que entenda as desigualdades do país e trabalhe para a construção de uma nova política.

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