“Blindagem” salva ex-prefeito Cristiano Matheus da prisão

Esta semana a Polícia Federal (PF) realizou mais uma operação envolvendo políticos alagoanos. Cristiano Matheus foi apontado como líder de um esquema de desvio de recursos da Prefeitura de Marechal Deodoro. Mesmo com todas as provas recolhidas, o ex-prefeito se livrou de um pedido de prisão que foi negado pela Justiça Federal.

Vinte e cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos na capital e nas cidades de Marechal Deodoro e Pão de Açúcar, além de Nova Olinda, no Maranhão.

Foram apreendidos seis veículos, com valor acima de R$ 60 mil cada, além de R$ 297 mil, US$ 5 mil e 14 mil euros. A quantia estava guardada em um cofre de um apartamento que pertence à dona de uma construtora, também alvo da ação.

A Polícia Federal não informou o motivo de o pedido ser negado, mas informações dos bastidores reviveram outras situações envolvendo o político, em que ele afirmava que era “blindado” e que se fosse preço, políticos e pessoas ligadas ao Judiciário seriam prejudicadas, pois ele “sabia de muita coisa”.

O superintendente da PF em Alagoas, Bernardo Gonçalves Torres, comentou a negativa. “Não cabe à polícia analisar decisão judicial. Temos que cumprir. A Justiça é independente para tomar a decisão que acha mais correta”.

Mesmo com a explicação do delegado, sabe-se que Cristiano já esteve em ou­tras situações semelhantes, em que ele nem passou perto de uma cela.

Em outubro deste ano, a ex-namorada de Cristiano pediu a prisão dele após o não pagamento de pensão relativa a três meses consecutivos, na ordem de R$ 11.616,34.  Em casos que não envolvem políticos ou artistas, cidadãos comuns chegam a ser presos em menos de 48 horas. Não foi o caso do ex-prefeito.

É preciso lembrar que até um tempo atrás, o desembargador afastado das funções pelo CNJ, Washington Luís Damasceno, era sogro de Cristiano. Inclusive o processo que corre em Brasília diz respeito a “favorecimentos” que o juiz teria realizado ao seu genro quando ele era prefeito de Marechal Deodoro.

 

LARANJAS

Envolvidos em esquema tinham porcentagem e lucraram

Motorista de ex-prefeito foi um dos que tiveram o nome usado

 

De acordo com a Polícia Federal pessoas próximas e parentes que atuavam como “laranjas” também enriqueceram ilicitamente.

“Um dos laranjas comprou, repentinamente, uma frota de ônibus em 2016, a um custo de R$ 5 milhões, e conseguiu concessão para linhas junto à Agência Reguladora de Serviços Públicos, a Arsal”, explicou o superintendente, Bernardo Gonçalves Torres.

“Alguns amigos ligados ao ex-prefeito costumavam enricar do dia para a noite na época em que ele era prefeito. A rede é extensa, mas a polícia está fazendo o seu trabalho e buscando desarticular esta organização e, se possível, apreender ou sequestrar o que foi desviado dos cofres públicos”.

Além de passar informações falsas, o grupo realizava uma espécie de rodízio de propriedades entre eles. Uma sala comercial localizada em um prédio empresarial na orla marítima de Maceió teria sido adquirida em nome do motorista de Cristiano Matheus e, depois, repassada adiante.

“A sala foi transferida para o nome de outra ‘laranja’, servidora de Marechal. Ela repassou o imóvel novamente para o motorista, que, por sua vez, repassou-o para outro laranja, que tem mais duas salas no mesmo prédio e também figura como proprietário do apartamento em que residia o ex-prefeito”, relatou o delegado.

“Esta confusão é intencional e tem como finalidade desnortear e confundir os investigadores. Isso dificulta bastante o trabalho policial, e é assim que costumam operar estas organizações”, afirmou dizendo que esta é uma das formas utilizadas por organizações criminosas especializadas em lavar dinheiro.

Os envolvidos no esquema podem responder pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa, desvio de recurso público (peculato) e lavagem de dinheiro. Quando concluído, o inquérito deve ser enviado para o Ministério Público.

 

COFRE

Dinheiro é encontrado em imóvel

Imóvel pertence a dona de construtora que reformou apartamento

 

Uma quantidade de dinheiro foi apreendida em um apartamento da dona de uma construtora, que segundo investigações, reformou o apartamento do Cristiano Matheus, o mesmo local em que o ex-prefeito apareceu em uma discussão com uma ex-esposa este ano.

A empresária, que não teve o nome revelado, alegou estar com os valores em casa por já ter tido as contas bloqueadas, também teve a prisão pedida.

A construtora também tinha um contrato de R$ 17 milhões com o município de Marechal Deodoro e, em 2014, pagou R$ 104 mil num projeto de reforma e ambientação do imóvel em questão, onde Cristiano Matheus morava. De acordo com a polícia, o imóvel está no nome de um amigo, que seria “laranja” do ex-prefeito.

Além da residência em Maceió, uma casa em Marechal Deodoro também teria sido reformada por outra construtora – essa com um contrato de R$ 8 milhões. A empreiteira investiu R$ 30 mil no local, mas as obras nunca chegaram a ser concluídas, como apontam as autoridades policiais.

O delegado Márcio Tenório, coordenador da operação, disse que os documentos foram apresentados após a operação deflagrada em julho. “Esses recibos foram apresentados após a deflagração da 1ª fase, com a nítida intenção de justificar a versão que ele deu quando foi ouvido pela primeira vez”.

“Em 2016, o ex-prefeito também contratou um projeto de móveis planejados para essa casa, negociado com uma loja de Maceió, no valor de R$ 110 mil. De acordo com depoimento da proprietária da loja, da arquiteta e de outras testemunhas, o ex-prefeito ligou para o então secretário de Finanças e esse levou o valor em espécie para o pagamento”.

Botão Voltar ao topo