Campanha de Collor para governador foi regada com dinheiro sujo

“Quero, quero, gostei, mas preciso ganhar”, teria dito o então candidato ao governo de Alagoas nas eleições de 2010, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, durante uma discussão sobre doação de recursos para sua campanha.

Os ex-executivos da Oderbrecht Ambiental, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis e Alexandre José Lopes Barradas, afirmam em depoimento à Procuradoria Geral da República que a conversa ocorreu no apartamento do próprio senador, em Maceió, em agosto daquele ano. “Collor disse que precisava ganhar a eleição e que para isso ele precisava de dinheiro, a campanha estava muito cara”, afirmou Barradas.

Em delação premiada, os executivos afir­maram que a empresa repassou para a cam­panha de Collor R$ 800 mil de pro­pi­na e caixa 2. Nas planilhas, o senador era ape­lidado como “Roxinho”, numa referência à frase dita por ele ainda no exercício do man­dato de presidente. Em 1991, ele afir­ma­ra ter nascido “com aquilo roxo.” O va­lor foi pago pelo Setor de Operações Es­tru­tu­radas do Grupo Odebrecht, que contro­lava os pagamentos de propinas à políticos.

No vídeo, Barradas conta que o pagamento foi feito em São Paulo. “Não foi uma doação oficial. A origem do di­nheiro era lícita, mas a maneira de passar era que estava errada”, reconheceu. De acordo com ele, isso já estava como pressuposto na reunião. “Não tínhamos condições de fazer doação oficial, enquanto Oderbrecht Ambiental, porque somos uma empresa prestadora de serviço público. Isso é de conhecimento geral.”

Além dos ex-executivos da Oderbrecht, estava presente na reunião o Euclydes Mello, primo de Ferando Collor. O tema central do encontro era uma eventual privatização da Companhia Estadual Alagoana de Saneamento (Casal).

“A empresa é uma das mais deficitárias do Brasil. Ele entendeu e disse se francamente favorável à privatização, que sempre foi liberal”, disse Santos Reis. “Com esse discurso compatível entre o que ele se propunha a fazer e com que nós gostaríamos de ver, nós acertamos a contribuição de R$ 800 mil”, completou o ex-diretor Santos Reis.

No depoimento, Barradas contou que ele e Santos Reis viajaram para Maceió com um avião da companhia, especialmente para discutir a doação de campanha com Collor. O plano de voo foi apresentado como uma das provas, além da planilha do sistema Drousys, o departamento de propinas da Odebrecht, onde consta a doação de R$ 800 mil.

Barradas afirma que já havia, durante o voo, a percepção de que Collor pediria uma contribuição para a eleição. “Não tinha dúvida. Toda vez que você conversa com candidato há expectativa de que ele lhe peça alguma coisa. Essa expectativa com certeza existia.”

Nas palavras do ex-executivo da Oderbrecht, Collor foi “propositivo”. “Quero que você faça as obras”, teria dito. “E nós: ‘senador, nós não fazemos obras. Nosso negócio é investimento, é gestão. Inclusive quem faz a obra não somos nós. Nós contratamos as obras’. E ele: ‘Quero, quero, quero. Preciso ganhar'”, relatou Barradas no vídeo.

Foi nesse momento, disse Barradas, que o tema da doação surgiu. De acordo com Barradas, a reunião com Collor seguiu um padrão comum a de outros políticos. “Quando você tem uma reunião com um candidato, é uma exposição. O candidato do Brasil está sempre atrás de dinheiro. A estratégia da empresa era isso. No momento adequado, buscar as pessoas para tentar ter a sensibilidade, para que eles possam colocar nos planos de governo”.

Em nota, o senador Fernando Collor negou o recebimento de recursos indevidos. “Nego, de forma veemente, haver recebido da Odebrecht qualquer vantagem indevida não contabilizada na campanha eleitoral de 2010”.

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