Operação Carne Fraca revela lado podre da Polícia Federal

A última sexta-feira (17) virou as geladeiras de todo o país de ponta-cabeça. A operação Carne Fraca, a maior da história da Polícia Federal, levou aos jornais, ao debate público e às redes sociais os métodos e ingredientes usados por mais de 40 empresas do setor alimentício para produção de carne. Na bolsa, em questão de horas, as ações da JBS caíram 10%, e as da BRF, 7% – a taxa de produção de memes, por outro lado, atingiu uma alta histórica. Apita o Whatsapp e logo surge a foto de um suculento espeto cheio de peças de papelão.

E mais. Superpoderes foram atribuídos a substâncias não tão mágicas assim, como o ácido ascórbico, que seria capaz de devolver a boa aparência a qualquer peça de presunto de idade avançada. Já a misteriosa carne mecanicamente separada – mistura de aparas que atende pela sigla CMS e preenche calabresas ao redor do mundo – passou a levar, segundo teóricos da conspiração, ossos moídos junto ao resto da carcaça.

Mas, até onde isso é verdadeiro? O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, durante um de seus pronunciamentos, esclareceu que “a questão do papelão está clara no laudo que está colocado é que se falam de embalagens, e não de misturar papelão na carne. Seria idiotice e uma insanidade para dizer a verdade. As empresas brasileiras destinam milhões e milhões de dólares nos seus mercados, e conquistá-los exigem mais de 10 anos. Não dá para aceitar esse tipo de situação. A partir de uma fala, a narrativa (da PF) nos leva a criar até fantasias”.

Já o secretário de Defesa Agropecuária, Luiz Eduardo Rangel, afirmou que, na leitura que a pasta realizou no inquérito, não foi possível perceber risco significativo. “Não há plástico ou papelão misturado nas carnes, e tão pouco há ácido ascórbico na produção dos alimentos ou carne podre nas prateleiras. Os produtos que estão sob inspeção têm rigoroso sistema de fiscalização baseado em risco”, afirmou. Rangel ressaltou que a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não permite produtos que tenham qualquer origem cancerígena. “Alguns produtos são utilizados na elaboração de determinados produtos alimentícios, mas todos são disciplinados pela Anvisa, monitorados e fiscalizados pelo ministério”.

 

E como anda a qualidade da carne em Alagoas?

 

baptista-jose-dos-reis“No nosso estado não temos nenhuma manipulação para fazer embutidos. Temos a nossa carne in natura. Também temos nosso próprio rebanho de bovinos, caprinos, suínos e bubalinos. Na entressafra, trazemos para cá animais de Minas Gerais para abater aqui”, informou José dos Reis Baptista, da Associação Autônoma de Fornecedores de Carnes de Alagoas.

Em 2015, Baptista denunciou que a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal), órgão  vinculado à Secretaria Estadual da Agricultura, vinha funcionando irregularmente. Disse José Baptista que no dia 27 de agosto de 1993, através do decreto 3868, publicado no Diário Oficial do Estado, nº 161, na página 3, foi criado o Serviço de Inspeção Estadual, entretanto, essa lei, não foi sancionada pelo governo do estado, na época Geraldo Bulhões, com isso, a Adeal, não foi regulamentada e não possui  amparo legal da lei.

A associação tem lutado nos últimos anos contra a falta de fiscalização no abate, que pode colocar em risco a saúde dos consumidores. Desde 1993, que a entidade tenta para impedir a entrada de produtos com procedência duvidosa no estado. Em entrevista ao A Notícia, Baptista destacou que o Brasil não tem como esconder que sua fiscalização é deficiente.

Nesta semana, técnicos da Adeal informaram à imprensa alagoana que, até o momento, não há indícios de que a carne produzida e/ou comercializada no estado esteja sob suspeita. Contudo, os técnicos garantem trabalhar diariamente para combater eventuais irregularidades. De acordo com a Inspeção Sanitária da Adeal, apesar das muitas informações acerca da operação, nenhuma equipe foi designada, em Alagoas, a fazer diligências, em virtude da ausência – até o momento – de qualquer suspeita.

“O combate à fabricação de Produtos de Origem Animal (POA) clandestinos é uma atividade rotineira dos fiscais da Adeal. Ou seja, fiscalizamos alimentos como carne, leite, ovos, pescados, mel e todos os seus derivados. Sendo assim, trabalhamos para impedir a fabricação e o processamento de alimentos estragados. Tal atribuição é compartilhada com as Vigilâncias Sanitárias”, afirmaram os agentes de fiscalização.

 

ALARDE

“Quando se coloca que foi a maior operação da história leva ao entendimento de algo muito maior do que foi na prática”, disse delegado

Delegados da PF confessam que corporação cometeu excessos

 

Repercutiu com força a declaração do presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, de que a PF teria errado no modo como divulgou para a imprensa e para a sociedade a operação carne fraca.

Já no final da tarde de terça-feira (21/3), a direção da Polícia Federal soltou uma nota em conjunto com o Ministério da Agricultura afirmando que não se trata de um problema sistêmico. Um delegado com notória liderança na classe disse que “já tinha demorado” para o comando da PF dar a mão à palmatória.

Para Sobral, ficou evidente que ha­via corrupção de fiscais e problemas em fri­goríficos. “Mas isso foi um problema sis­têmico? Não vi os colegas da operação di­zendo isso. Mas quando se coloca que foi a maior em operação da história da po­lí­cia leva ao entendimento de que é algo mui­to maior do que pode ser na prática”, disse.

“Embora as investigações da Polícia Federal visem apurar irregularidades pontuais identificadas no Sistema de Inspeção Federal (SIF), tais fatos se relacionam diretamente a desvios de conduta profissional praticados por alguns servidores e não representam um mau funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro”, diz a nota conjunta da PF e do Ministério da Agricultura.

O delegado da PF responsável pela segurança nos Jogos Olímpicos, Andrei Augusto Passos Rodrigues, disse que a “comunicação social da entidade é um dos pilares para informar bem sobre as operações e evitar qualquer efeito colateral indesejado”, mas não entrou em detalhes sobre a operação carne fraca.

Luiz Roberto Ungaretti de Godoy, delegado da PF com maior experiência em operações de combate ao narcotráfico, ressaltou que a “questão da comunicação das grandes operações, aquelas que têm um contexto político e econômico enorme como essa [carne fraca], muitas vezes geram essas polêmicas. A gente percebe que toda vez que a operação lida com elementos de corrupção, qualquer palavra pode gerar uma grande repercussão. Mas PF tem que divulgar seu trabalho e a sociedade demanda isso”.

 

Ministros criticam

 

Repercutiu com força a declaração do presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, de que a PF teria errado no modo como divulgou para a imprensa e para a sociedade a operação carne fraca.

Já no final da tarde de terça-feira (21/3), a direção da Polícia Federal soltou uma nota em conjunto com o Ministério da Agricultura afirmando que não se trata de um problema sistêmico. Um delegado com notória liderança na classe disse que “já tinha demorado” para o comando da PF dar a mão à palmatória.

Para Sobral, ficou evidente que ha­via corrupção de fiscais e problemas em fri­goríficos. “Mas isso foi um problema sis­têmico? Não vi os colegas da operação di­zendo isso. Mas quando se coloca que foi a maior em operação da história da po­lí­cia leva ao entendimento de que é algo mui­to maior do que pode ser na prática”, disse.

“Embora as investigações da Polícia Federal visem apurar irregularidades pontuais identificadas no Sistema de Inspeção Federal (SIF), tais fatos se relacionam diretamente a desvios de conduta profissional praticados por alguns servidores e não representam um mau funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro”, diz a nota conjunta da PF e do Ministério da Agricultura.

O delegado da PF responsável pela segurança nos Jogos Olímpicos, Andrei Augusto Passos Rodrigues, disse que a “comunicação social da entidade é um dos pilares para informar bem sobre as operações e evitar qualquer efeito colateral indesejado”, mas não entrou em detalhes sobre a operação carne fraca.

Luiz Roberto Ungaretti de Godoy, delegado da PF com maior experiência em operações de combate ao narcotráfico, ressaltou que a “questão da comunicação das grandes operações, aquelas que têm um contexto político e econômico enorme como essa [carne fraca], muitas vezes geram essas polêmicas. A gente percebe que toda vez que a operação lida com elementos de corrupção, qualquer palavra pode gerar uma grande repercussão. Mas PF tem que divulgar seu trabalho e a sociedade demanda isso”.

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